sábado, 25 de agosto de 2012

gozo


tive duas vidas. basicamente. quando menos esperei, era outra, não uma. tive ímpetos de me jogar no chão e espernear. babei todo o carpete da sala e mordi meus próprios dentes. ai, que era de minha sala de estar. minha mão, aturdida, me tomou no braço, e chorarão os olhos. desliguei aquele botãozinho de rosa dentro de mim, e sentei na sala, cansado, perguntando, suado “deus, que é de mim?”. ela tinha dois dentes inteiros (não só), quase nunca falava, mas balbuciou que “meu meu amor” e eu pude viver para morrer de novo. meu coração só sabia de cor meus batimentos – sentimento além deste sempre soube: era exagero, como aquele amor repentino e desesperado. o formol entrou gostoso no meu nariz, aí foi. na hora do caixão aberto, vi os dois dentes beijar minha testa, meu filho meu amor meu filho meu amor. tivesse dó de me morder, arrancada a língua, enterrada num mar de areia, seria feliz de estar inerte debaixo da terra. lalinha, segurando meu pai, queria que fosse verdade, não fosse minha mão, estava fodido. acendi um cigarro e fui escrever.

eap

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