quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

paisagem móvel

retratos vezes mil nas janelas a mil
quem vai na onda dele se perde
e maiores são as notícias - espera:

vamos voltar do início, refazer o poema. calma, respira, o ônibus tá em linha reta, seu pensamento também. as notícias nem são notícias, são os outdoors, a gente não pode seguir adiante, ele vai dobrar, ela vai descer, e 

na alça da blusa dela,
as onças se abocanham,
podem andar pela extensão
de toda a savana de pelos
dos quais o seu braço é feito
na nuca - calma:

não tem mais muito o que dizer, mas os versos surgem até

do bigode dele
acompanho a vazão que dá
as idas e vindas que sua vida
cuidou de fazer - passa o troco
e no cofiar dos dedos,
percebo-lhe vaidade
para além dos anos que lhe vêm
para agora dos anos que lhe vão.

"no vão das coisas que a gente disse
não cabe mais sermos somente amigos
e quando eu falo que eu já nem quero
a frase fica pelo avesso - meio na contramão"

de repente entra o trecho da música da ana carolina no meio da coisa toda e tudo se embola feio, mas nem tanto - percebo de onde vi, and I drag behind, depois de descer do ônibus - o último cigarro da noite,

quem sabe da vida inteira,
estrela essa que carrego
na ponta dos dedos,
iluminando apenas os meus olhos
enquanto vai-se apagando
por dentro do que esquenta
(a morte da estrela-anã vermelha)
eu astrônomo todos os dias,
conto no cobertor, e no buraco do teto
todas as estrelas que posso

agora, sono, e quanto mais penso mais vontade dá de pensar, e pensando associo, como prosa, mas saem versos da ponta dos dedos, como parar, eu na-

o til nem teve tempo
de se sobrepor no a,
foi instantâneo, e, mesmo
depois que o a se forme em
inúmeros zês pela madrugada
meu pensamento continua
dissociando o intangível das memórias
que nunca tive,
da tesoura e do escorpião
e de todas as coisas
que num dia
fiz verso do avesso.

eap

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