"[...] tudo dela tem algo de me rememorar aquele
passado fadado e destruído – o meu quarto, aquela ideia imbecil de levantar a
casa na árvore, e num instante posterior saber que na temática de nossas
pequenas anedotas infantis recebíamos claramente o abraço como algo mais que
natural. seu braço ali para mim era uma tarde inteira sentado à sombra de
alguma árvore onde eu pudesse descansar minha cabeça cansada de lembrar das
coisas que eu só queria esquecer pra sempre (não uso as palavras “coisa” e “pra
sempre” com frequência, mas, deixa um instante que minha mão se mova por sua
própria vontade e não somente pela necessidade de parecer outra coisa que não
sou). os seus dedos deslizavam pelo meu cabelo e tudo nela cheirava à fruta
última madura que na sua boca houvera dentada precisa, e seus dentes, brancos e
certos, e retos, em comparação com os meus, tortos, amarelos, era um contraste
de se fazer terror, esses filmes alemães expressionistas: poder-me-ia
classificar como um nosferatu repugnante, como todos os meninos o são na visão
das meninas, e ela ellen indefesa pela mão de sombra que avança pelo quarto –
nunca entenderei a sedução, e, de repente, é como se o passado se misturasse
com o presente: essa mão não é minha, essas garras negras que pela parede
envolvem seu corpo desnudo também não, é outra extensão – se perguntasse para
ela agora a definição mais precisa do que fui ela diria: doce. quatro
letrinhas, quatro. e por elas fiei-me por quase toda a vida – ah, ela não
poderia ser mais contrastante. não, não é que na língua seu gosto fosse apenas
salgado, mas também, e além disso, ácido e purulento debaixo de meus dentes,
entre a bochecha e a gengiva – a língua lenta lambe o lábio, deixando atrás de
si a espuma espessa do gozo, e o sorriso dos dentes delineados estica uma linha
e bolhas que se somam nos cantos da boca. o meu amor supera o esporro porque
lembro de suas mãos, e do beijo com gosto de fruta, o primeiro, o único por
muito tempo e o segredo que por ele permanecia, cê me mostrava alguns segredos
que por muito tempo demorei a aceitar, hoje, acho vulgar outros peitos,
mamilos, a buceta, o grelo, o cu, o dedo enfiado, a língua, o pau, duro,
pendendo para os cantos e comandando e sendo comandado, enfiado, solavanco,
cavalgada de bicho doente, mordida – sempre fui tão doente assim. [...]"
eap
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