segunda-feira, 5 de novembro de 2018

27

eu tenho medo do tempo,
embora eu negue
e finja que o aceite.
sei lá,
27 anos, parece que foi ontem
que eu estava feliz
porque tinha uma trilha enorme pela frente
e eu quebrei tudo
e mudei o percurso
e me desfiz em nada.
eu sou muito sonho, sabe?
e isso é tenebroso.
fico recheado de planos,
falo alto como se estivesse sempre
respondendo a perguntas imaginárias
feitas em um late night.
eu sou sonhador demais
e a gente que flutua no sonho
só sabe reclamar da realidade.
27 anos
a idade onde os gênios morrem.
já foi a janis, o jimi, o jimbo, o kurt e a amy.
ainda teve o johnson e ainda vai ter mais gente.
eu achei que um dia seria eu,
por mais humilde que eu tentasse ser,
eu sempre sonhei que seria grande,
sempre quis ser um reflexo invertido da minha realidade
quando na verdade,
você só pode ser o que você é.
27 anos – ainda tem um ano pela frente
pode ser que eu morra,
pode ser que eu viva,
o resultado é indiferente,
é só mais um,
não é gênio,
mas conhece os gênios,
quis ser um,
grande promessa,
se bem que o lil peep morreu com 21
e já era gênio.
aos 21 eu era promissor, como a maioria das pessoas que eu conheço.
aos 21 eu era ovelha negra da família
eu tinha orgulho de mim
e queria morrer,
hoje eu tenho vergonha do que me tornei
mas quero viver,
vai saber o que me aguarda.
pode ser que alguma coisa aconteça –
eu só preciso de uma chance,
afinal, estou cada dia mais próximo dos 30,
que é uma idade estranha.
eu lembro do meu pai com 30,
eu lembro da minha mãe com 30.
eu tenho medo do tempo, porque ele existe
e a gente passa por ele, e não o contrário.
um dia a gente passa
e ele fica
e o que resta é nada mais que um resquício no tempo
e meia dúzia de palavras que alguém deixou para
meia dúzia de pessoas.

fortaleza, 18 de julho de 2018:
eu fiz 27 anos e quero viver.

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