terça-feira, 6 de novembro de 2018

depois do fundo do poço

percebi com os meus olhos baixos
que o caminho que seguimos
é cada vez mais sombrio.

por mais que arregalasse meus olhos,
por mais que acendesse as luzes,
estávamos caminhando
ladeira abaixo nessa escuridão.

o porão do fundo do poço
foi descoberto

e cada um de nós caminhou,
uns a contragosto
outros por vontade própria
e uns, ainda, empurrados sem saber,
nesse piche
que queima e gruda na pele.

o sangue negro e do índio
correm pelas nossas mãos,
pelas nossas calçadas,
mas cada vez menos
são bombados
pelos nossos corações.

quando assim fechar-se a tampa do alçapão
vamos dar conta
que o último prego
da tábua que fecha este lugar escuro
ao qual fomos jogados sem escolha,
é o único lugar possível
para aqueles que já estavam tão próximo dele
mas que tinham medo de estar lá.

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