Reunir-se-ão filhos, pais, netos, bisnetos e as ramificações adjacentes naquela festa cheia
de rememorações à esmo – uns primos que numa mesa se refugiavam cheios de
nostalgia, àqueles anos oitenta! Ah, aqueles anos oitenta! Quais almas não se
enterneceriam só de olhar para trás, por cima dos ombros – olhe, eu queria
tanto ter nascido lá, não vivido, nascido, veja bem, que para mim, os anos
noventa, aquela bendita ressaca, hum..., aquela ressaca é que pareceria ser o
lugar da juventude feliz, por mais contraditório que se seja.
Mas
não. Nã-nã-nã-nã-nã-nã-nã-nã-nã-não. Quis alguém, além da idade já avançada,
que a chuva de herdeiros do sobrenome fosse àquela época, e cresceram todos
juntos.
Na
verdade não estarei lá; mas vejo duas mesas bem distintas. A mesa de minhas tias
a conversar, cada uma talvez receando, uh, dedos e dentes de rancor, é claro,
pois as famílias guardam dessas coisas; entretanto, conversam, algumas ao copo
da cerveja, outras não; uma apertada em seu vestido largo, ou ainda em seus
jeans justíssimos, cintilantes cristais, outra em cores, outra em imitação de
pele de onça – ali no cantinho, sorrindo de canto aquela tia viúva, sem muito
em comum, constrangida pelo largo silêncio e ao seu pé o filho também em
silêncio, que sai vez por outra para sentar-se à outra mesa, onde risadas
explodem frenéticas sobre os casos de infância e adolescência, brincadeiras,
brigas, que aqui e agora são tratadas com felicidade galhofeira, antes, ah,
antes foram pau feio entre os primos, e ri, aquele mais tímido, sem no entanto
nós sabermos que em sua cabeça vai meio enevoado o episódio, e àquela época
fora ruim, sim.
Faço
este parágrafo aqui para que o outro não se estenda, pois que não quero que nenhuns
de vós percam nada do regozijo de minha alma em prever o futuro – e sei que em
blogues um parágrafo mais longo faz diferença entre ir adiante ou fechar a
página.
No
mais, a mesa de primos e primas fala de Menudos, fala de Dominó, talvez entre
aqui e ali um ídolo daquele tempo, talvez entre acolá um desenho, uma série, um
filme, uma novela – ai, que novelas! Aí que surjam certos segredos que nem aqui
serão revelados, mas, a certa altura em que saiam da infância para chegar à
adolescência, em meio a risadinhas de escárnio, hum, aquele olhar desconfiado e
singelo do segredo escondido, pois chega o marido, senta-se à mesa, dando um
beijo no rosto daquela e a esposa vai ali cuidando do filho e pede ajuda com a
bolsinha das fraudas – mas que lá fique, por favor, que certas coisas
mudaram... Ora, vão-se aí sabe lá quantos anos!
E
enfim os filhos, primos de segundo grau, que correm batem-se, esbarram em suas
birras e más criações, nas suas vontades, nos seus mimalhos nojentos – como o
são o de todas as crianças, entretanto umas mais que outras, já que, ai, lá vem
o dinheiro que o pai não tivera outrora, e que, tanto tem agora, que acabará
por implantar cabelos, que vão-se escasseando em sua fronte, mas não tanto, vá
lá, vaidade dele e intromissão minha, mas a criança, essa sim... e, mais que
esforcem todas elas, surge aquela confusão no fim da festa que faz uma mocinha
chorar e explodir uma confusão monumental, mas não a ponto de fazer todos irem
embora, porque sempre surgirá um que vai dizer assim,
–
ora, senhores! Somos uma família! ao que todos vão se sentando, pondo suas
crianças a dormir, e, à meia-noite talvez alguém diga que se vai, enquanto uns
e outros mais nostálgicos permanecerão, à custa de raivas dos respectivos
maridos e esposas, além da birra dos filhos. Lá pelas tantas, alguém dar-se-á
conta da ausência de um ou outro, pegando-se a contar, no fim da festa quantos
e quais primos vieram ou não vieram – é nessa hora que vão dizer,
–
aquele lá é um esquisito! nem veio!
Mas
ninguém se lembrará – ora, já daqui contarão com a minha ausência. Num outro
dia vão se perguntar, e questionar, e embirrar, e dirão em uníssono que apregoo
por aí a desunião como aquela qual e aquela tal.
Ora,
eu estaria bêbado estivesse lá, falando mais que devo, não sendo engraçado como
prezo e passando vexame pela minha eterna sensação de estrangeirismo – que nem
em berço familiar se desfaz... É...
Por
isso que já digo daqui para dezembro: Passar bem, muito bem, senhoras e senhores,
não é difícil prever o óbvio!
eap
0 comentários:
Postar um comentário