domingo, 9 de fevereiro de 2014

doesn't remind me

sobretudo me incomodam retratos familiares conturbados. e não necessariamente precisam ser conturbados, mas retratos familiares de um modo geral.

pego-me às vezes sendo vítima, e nem sei bem se essa seria a palavra mais adequada para isso, de objetos de estudo puramente freudianos. é estranho ver-se desnudado por teorias - e dói.

odeie quem odiar, mas sou canceriano, ascendente em touro, lua em libra, denota uma personalidade pacata e sensível. mas o lado canceriano fala alto no que diz respeito à memória, esta, nem sempre agradável, mas, penso, responsável por uma sensibilidade pelo que se vê aqui nestas páginas desde 2009 e que vem de mais tempo, desde os treze.

vejo: os laços e desenlaces familiares e suas consequências sempre foram temas que me marcaram - e a maneira como o cotidiano de todas as pessoas é afetado por relacionamentos. tudo na vida gira em torno do que dentro da instituição afetiva criada com o outro gera: personalidade, atitudes (sejam elas quais forem), profissões, opiniões, igualmente - tudo. daí perguntarem o por quê desse apego a relacionamentos. ora, mas é disto que são feitos maior parte dos retratos cotidianos aqui expostos.

os meus mais íntimos sabem dessa fixação toda minha. e no quanto acredito piamente nisso.

quando penso por exemplo na figura de meus pais e em tudo o que se desenrolou na separação deles (sim, meio constrangedor, mas para que eu divulgue o que determinou este insight precisarei recorrer ao pessoal), foi responsável por lágrimas e mais lágrimas derramadas e olhos embaciados por filmes, músicas e livros que retratassem a figura paterna como provedora de algum desenlace - de cabeça lembro: estamos bem mesmo sem você (filme italiano do gênero drama, que retrata uma família conturbada pelo abandono da mãe), lembranças (sim, com robert pattson, em um papel talvez demasiado dramático, entretanto, final surpreendente, destaque para o papel de pierce brosnan), e, o que deu origem a esta crônica: o clipe de doesn't remind me, do audioslave, que retratou em síntese todas estas palavras até aqui.

no dito videoclipe vemos que tipo de destroços são criados com o pós-guerra (ao que tudo indica, a do iraque, ou afeganistão). uma criança que libera sua energia para suplantar uma dor que incomoda (vou escrevendo e achando cada palavra piegas, mas, que seja) no boxe.

ora, acho que é uma maneira de escapismo, jogar a fúria num esporte, adolescentes escolhem outros caminhos etc., mas aí denotaria uma outra breve reflexão de sociedade: lidamos com um modelo norte-americano de fraqueza, onde, como disse ariano suassuna, um jesus cristo modelo seria o superman.

que seja, tanto faz, não discordo, nem concordo - muito pelo contrário (risos). o fato é que: não é interessante como essas instituições nos transformam?, transtornam, também. de toda forma, ainda no assunto do que uma guerra pode gerar, vemos a figura de um soldado que nos diz o seguinte (naquilo que acredito ser um dos primeiros parágrafos mais legais da wikipédia:

" O Tenente-General Sir Adrian Paul Carton Ghislain de Wiart VC, KBE, CB, CMG, DSO (05 maio de 1880 – 5 de junho 1963), foi um oficial do exército britânico de ascendência belga e irlandesa. Ele serviu na Guerra Boer, Primeira Guerra Mundial, e na Segunda Guerra Mundial. Levou um tiro no rosto, cabeça, estômago, tornozelo, perna, quadril e ouvido, sobreviveu a um acidente de avião, escapou de um campo de prisioneiros, e mordeu e arrancou seus próprios dedos quando um médico se recusou a amputa-los.

Mais tarde, ele disse: 'Francamente,eu adorei a guerra!'"

não queria, sinceramente, que este texto se arraigasse pelas vias da boba demagogia sentimentaloide. vade retro. mas como não refletir e fazer paralelos?, ou então só uma mente paradoxal como a minha associa essas minúncias - mas, o tal videoclipe me conseguiu marejar os olhos (coisa lá não muito difícil), e fica-se aqui a indagação desta responsabilidade fardo que somos obrigados a carregar. nem sei ao menos a quem se há de atribuir uma culpa - e se há.

enquanto não se encontram formas de se saber o que por aí vai, deixo aqui o aviso prévio de que freud ainda vai incomodar por bastante tempo com obviedades. vamos à guerra ou ela vem a nós?

eap

2 comentários:

Antônio LaCarne disse...

eliézes, que inspirador são os teus textos. eles tomam um rumo não previsível e isso é o que eu mais curto na blogsfera.

Eliézer Araújo disse...

antônio, muitíssimo obrigado - bom saber que alguém se interessa de lê-los e ainda por cima inspira.

volte sempre.

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