seus olhos
tinham isso de expressar-se primeiro, e era magnético. quando ligou não pude
deduzi-lo, mas poderia adivinhar pela sua voz, a maneira como fala, talvez
olhando fixamente para as teclas, dizendo as palavras pausadamente, nem sei bem
ainda se de propósito ou não, mas nisso comedia com suas unhas vermelhas o que aconteceria naquela tarde
quando nos encontrássemos no café, e, depois das dez, lhe falaria das minhas saudades, dos
meus desejos pela sua pele, pelo seu cheiro, daquele jeito, esgueirando-me
feito uma cobra por cima da mesa, as mãos repousadas em suas coxas, os olhos em
seu decote, que ela já escolhera; seguraria, saindo de lá, sua mão, teria com
ela a noite inteira, beijaria seu pescoço, morderia sua boca,
seus dentes, meus dedos em seus lábios calados, puxaria seus cabelos, no momento último ela riria ou choraria,
chamaria “meu amor”, como antes, caso eu tivesse dito sim; caso não
adivinhasse tudo pelo seu número, caso eu tivesse atendido. depois de tudo, tudo
fica subentendido.
eap
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