domingo, 22 de julho de 2012

ácaros

embebedei-me olhando a janela do apartamento. era um dia de julho. sentava e escrevia um poema. o poema era bobo -- bobos eram os meus sentimentos, bobas eram as coisas que me inspiravam. olhava constantemente para o celular, esperando uma sms, uma ligação -- até debaixo da porta olhava, repente, um bilhete invadindo minha sala -- who knows? na janela, aquela estátua de pedra sabão me olhava, e eu estava tão tonto. e eu estava tão sozinho. recobrava lucidez -- desviava o pensamento e ria no chão da minha sala de estar escura -- aquela luz azulada do poste iluminando pensamento bobo -- eu era tão bobo que sequer sabia viver, pensava. redobrava minha dor, rindo. o celular era uma pedra inútil de plástico e bateria de lítio. eu pensei e se eu tomasse lítio? cause i'm not ok, man. i'm fucked up. maybe no: just down, down down down...

aniversariei há alguns dias. me ligaram, me aplaudiram, me amaram por aquele dia -- mas só por aquele. dias depois esquecido -- ou fiz questão de me esquecer, saber das coisas me agradava, entretanto irritava-me terrivelmente a dor que me proporcionavam algumas realidades -- os choques de realidade. bebi um pouco mais -- sabia dos meus limites e deles já havia passado há tempos. mas sabia bem o que estava pretendendo. queria entorpecer meu corpo, deitado no chão atapetado da sala de estar. azulava a sala, e um pouco ao longe, alguém punha the end dos doors. empurrava meu nariz e minha cara inteira no tapete -- lembrei dos ácaros, que vi nos livros de ciências, sentia nojo, achava-os nocivos (como os polvos, as aranhas -- esses bichos com tantos braços, meu deus, e eu só queria dois para um abraço -- acho que aí se esconde o grande medo: essa solidão coletiva, todos a tem, mas poucos a expõem -- aqui, nem me quero ver), mas, fuck all, fuck fuck fuck all this bullshit. a cabeça zonzeava, três mil anos de história na minha cabeça. mais o acréscimo de uns milhões e tenho apenas vinte e três. lembro em super 8 das coisas, queimaduras brandas na tela. corri, caí, o desejo de ser ser ser. nunca soube. hoje mergulhar no grande mar de nada e nadar -- que grande objetivo! nunca aprendi a nadar e sempre sonhei no sonho que morria afogado. deus tem dessas ironias, ou será que só minha mente? o celular não toca. o telefone não toca. a tv me irrita profundamente, a internet me vicia -- três noites seguidas. tinha maconha há dois dias, mas acabou tudo. só restou essa vodca barata, aquela cachaça ruim. aquela que acabei. se a cabeça parasse de girar -- não, óh, não pare de girar! até fecharei os olhos para melhor sentir... woooooooooooooooow

penso nisso -- essa dor que evitamos, mas queremos -- quanto mais sentida, menos acúmulo dessa dor, será menos daqui a alguns dias. eu gosto da dor por isso. ela vem, mas, como vem vai e volta e uma vez a vi voar, ir embora. silenciou meu peito. a vodca acabou. a música atingiu seu ápice e apascentou-se novamente, jimbo já gritou e se acalma brando, como uma criança -- APOCALYPSE NOW -- grita a minha mente. queria parar de pensar. queria parar de querer. queria parar de querer parar. ao menos por hoje, não levantarei daqui, ficar aqui, não quero mais sair. vou me degredar por completo, até ser o pó deste tapete -- sê-lo, sim. alguém virá um dia, arrombará a porta, e, no pouco caso de minha ausência (darão por ela as minhas dívidas mensais), mandará varrer a casa para alugar (talvez seja minha irmã, meu tio, não sei), e, a empregada, aborrecida, me varrerá porta afora -- ou então me deixará escorrer para debaixo do tapete. thats all, darling... os ácaros me recebem com carinho, acariciam meu crânio, me beijam, envolvem-me num abraço a oito braços, despenteiam meu cabelo, e eu os amo -- abraço seus corpos roliços, nunca encontro meus braços nesse abraço que jamais fechará. hoje eu os amo. só por hoje -- e só por hoje  queria ser o motivo de um espirro seu.

> 3:15 P.M. -- sms: renove seus créditos. <

eap

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