segunda-feira, 9 de julho de 2012

Bela Rosa

Bela, pulchra rosa:
tudo que me toca
é tudo que de ti transborda
que invade sem licença,
minha distração,
toma meu pescoço,
tua mão toma minha atenção:
meus olhos nos teus,
minhas mãos inquietas,
são suspeitas
de um crime doentio,
que é te tragar,
te suprir as necessidades,
tomar-te, ter-te,
beber-te, comer-te,
como minha única fruta,
líquido, insaciável na garganta.

Bela rosa de pudicícia!
Tirado tendo eu
toda ela,
verei teu desabrochar,
tua bela figura transformada
na rosa
em esplendor de doçura.
Tua seiva bruta
a lavar-me todo,
num banho embalado
onde pela tua água
gostaria eu,
em prazer e gozo,
de ser afogado.

Em teu cheiro
enebriar-me,
prová-lo, deliciá-lo,
como a um vinho
feito da mais rara uva.

Floresce, cresce, rosa!
que de teu esplendor,
de tua candura,
sobrará muito
muito pouco
para contares aos nossos filhos,
netos e bisnetos,
que bela foi tua pele-pétala,
teu corpo-ramo, tua cor-relva.


Que de todo cheiro,
sobrará apenas o mofo,
da rosa murcha,
amassada entre duas páginas
de um livro esquecido.

E,a,p'

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