domingo, 22 de julho de 2012

bom dia

um velho estava esperando o ônibus no ponto -- suas vestes, essas coisas simples, o rosto, o rosto de gente velha. velhos velham, do verbo velhar (à la guimarães rosa). tal identificação me inspirou: seu cansaço de velho, seu jeito de velho, suas rugas de velho, seus olhos de velho, que tive que desejar bom dia para ele. desejei, mas desejei-o mentalmente -- me arrependo um pouco de não tê-lo dito em voz alta, mas... eu sequer desejo bom dia à minha mãe, sequer desejo bom dia para mim, sequer desejo bom dia. compaixão santa? pena? dó? nunca vou poder responder. ele simplesmente o era -- era a si mesmo, calado, ele, sentado, fechado. caminhei olhando-o, passei por ele assim.

ele sequer me olhou -- era velho, e tinha a força de um velho -- entretanto, eu, não consegui dobrar a esquina sem antes observá-lo entrar no primeiro ônibus, aí sim soltei a voz rouca, pesada (as primeiras palavras do dia): bom dia.

eap

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