sábado, 27 de agosto de 2011

In Random - Citadino Insone


Se minha cidade fosse este vento frio e tranquilo que penetra noite adentro, talvez fossemos outras pessoas. Talvez eu tivesse maior parcela de culpa na minha consciência juvenil, pois que eu iria lamber a lama do meio-fio, tomado de uma embriaguez sem tamanho em meio a beleza que envolve esta noite condensada em um silêncio interrompido por breves rangeres de portas e de tosses catarrais de velhos doentes. A estrada seria mais curta até o desespero pleno das autoridades policiais em relação ao nível de adolescentes indecentes em suas boemias insaciáveis em meio a cidade. Se ela fosse assim durante todo o dia... Esse sol não me é agradável, não é. Não é que o câncer me assuste, que o cigarro já fará em breve o seu papel, mas na verdade, este sol maldito nos põe imundos, cansados, exaustos. O sol bem que poderia ser lua e aí quanta gente mais não estaria na rua, declamando versos de trás para frente, com gosto de saliva amarga, que é o gosto da maior parte dos ácidos gástricos enquanto borbulham em nosso estômago alimentados pelo desgosto de viver trancafiados. Eu quase tenho cócegas da chuva, e agradeço verdadeiramente por cada gota. Cantaria por cada uma delas, mesmo por seus momentos ruins, como as goteiras que vez por outra me despertam em meio a imundície do telhado vermelho cheio de teias de aranha, que teimam em me despertar madrugada adentro. E agora, sentado aqui, nesta varanda sórdida, com o fungar do cachorro escocês em meu pescoço, eu sei que a noite ainda é quase dia e que tudo que se pensa sonho em minha mente, é real. Eu procurarei depois um sentido pra isto. Na verdade, eu queria mesmo era falar de Deus, e de toda a religião. Mas este céu rosa, este vento forte, estas folhas que em mim engancham têm muito mais sentido, maior valor; pois que nada que recebe esta tamanha importância merece o valor que lhe dão. Olhem as guerras, que são todas elas por três razões interligadas: pessoas, política e religião. Cada qual com o seu pilar que sustenta esta desgraça em que vivemos. Boa noite sol, bom dia lua - eu queria ter sorte em viver até amanhã, que bocejar é quase morte. Se a minha cidade fosse boa, por ela eu seria grato, mas eu penso e logo digo: este sentimento de gratidão é tudo o que há de mais ingrato neste mundo.

E,a,p'

ps: Foto: Fco. Fontenele - O Povo

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