domingo, 11 de dezembro de 2011

O Estrangeiro de Albert Camus

Ao ler o primeiro parágrafo de O Estrangeiro de Albert Camus, temos uma noção do que virá pela frente. A frieza com que recebe a notícia da morte da mãe permeará todo o livro em diversos âmbitos, os quais o livro percorrerá, o sexo, as amizades, o assassínio, a vida e a morte.

"Hoje mamãe morreu. Ou talvez ontem, não sei. Recebi um telegrama do asilo. "Mãe morta. Enterro amanhã. Sinceros sentimentos." Isso não quer dizer nada. Talvez tenha sido ontem."

É fácil identificá-lo no olho do furacão existencialista como uma das obras mais famosas, juntamente com o livro do compatriota, Sartre, O Ser e o Nada, entretanto o autor não quisera este rótulo de existencialista ao seu romance, que se derrama todo na estética do absurdo - estilo principiado com o escritor tcheco Franz Kafka, em obras como O Processo, O Castelo, entre outras. O Absurdo nesta obra está na máquina estatal que oprime a liberdade do personagem central, Mersault, que por não ver razões em nenhuma crença, nenhuma fé, nenhuma ciência, é assim tido como livre, e esta liberdade acaba por conduzi-lo ao seu destino final, que se chocará com esta máquina. Esta noção do Absurdo está no modo como, à maneira do Sr. Joseph K., de O Processo, Mersault é tratado em seu processo pelo assassinato de um árabe, como fosse alheio ao que ocorria ali na sua audiência. Além de se utilizarem da frieza com que fora ao velório de sua mãe como prova irrefutável, aos olhos de um promotor carrasco, de sua psicopatia, senão isto, de sua vontade e intensão de matar o tal árabe.

Entretanto, o protagonista não tinha qualquer razão para fazê-lo, e para ele, tanto se lhe fazia o que iria acontecer à sua vida. Existir é apenas isto que encaramos todos os dias: nascemos para morrer. A existência, puramente, ao homem, deveria pautar-se na liberdade do indivíduo, mas esta liberdade é ofensiva ao Estado, e é aí que Liberdade e Absurdo são faces da mesma moeda, de acordo com o pensamento camusiano.

Pouco sei sobre a filosofia existencialista. Mas o fato é que é explícito o jogo das ideias destes homens nas pouco mais de cem páginas que permeiam o romance, que está, ao lado de O Processo, entre os cem livros do século XX. O porquê é simples: está ali explícita a forma como a máquina estatal controla a liberdade do homem a ponto de encurralá-lo contra a parede e fazê-lo digerir as vontades e deveres impostos por eles.

Mas, no que tange ao modo como Camus lidou com a literatura, é um livro de facílima leitura. Períodos curtos, ideias jogadas enxutas nas páginas do livro, e, acima de tudo, um assombroso jogo que permeia a segunda parte do livro, que seria o encontro de Mersault com o estado - já que a primeira parte seria o usufruir de sua liberdade, o que nos mostra o sexo, o banho de mar, os passeios, etc.. É um livro popular. Tanto, que sua influência fora dar de cara com a banda de rock gótico inglesa, The Cure, na letra da canção "Killing a Arab" - que à época fora má interpretada. Além de uma adaptação cinematográfica pelas mãos de Luchino Visconti, em 1967, com Marcello Mastroianni no papel de Mersault.
Killing a Arab - The Cure

É uma leitura obrigatória para quem procura respostas a questionamentos sobre a sua própria liberdade, e, parafraseando as palavras de Arthur Dapieve "é uma espécie um tanto cruel de livro de auto-ajuda".

eap

1 comentários:

liz Pompeu disse...

Parabéns Eliezer!...continue assim e vc conseguirá tudo que deseja.

Postar um comentário