quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Versos Íntimos

eu que quis viver e abusar do absurdo
agora me dou de cara
com o mundo - e nunca tive tanto medo.

você tem um pedaço deste coração
e eu sou um poeta em pedaços...
quando decidirmos o que disto é mais importante
vejamos até onde isto vai chegar...

toda a minha história
é feita de poesia morta...
me pego pensando nisto às vezes
e pergunto-me, se é normal isto...
quando de repente, sou comovido
do sentido que procuro dar a tudo isto...

e eu que procurava abusar do caos e do absurdo,
hoje me vejo de cara com a calamidade de tudo,
uma prostituição incalculável de minha história -
meu corpo nu e renegado, chicoteado, queimado...
brasa dilacerando a carne...

quem me daria chances,
quem seria assim tão cruel?
quem poderia me dizer que sim
sabendo que eu digo não a tudo isto?

é o destino dos infelizes,
dos pobres mortais -
dos pobres que morrem...

aquele zumbido surdo do caos
uma mosca pousando num copo de leite
ao som do violão encostado na parede,
cheio de poeira e de música perdida, vadia,
reles, nota alguma (nota zero)

o homem da poesia torta, movediça.
o ser de mãos calibradas para o erro,
o ser que se posiciona fraco, o ser-ou-não-ser
que entra à noite em desespero...

o menino perdido e sujo,
o menino que amava outros,
sem saber que o amor jamais salvou nada
e sim foi morto durante seis seis seis,
milhões de séculos...
desde o início...

eu só lamento não ser aquilo
que todos esperavam ser.

eap

1 comentários:

Priscilla Way disse...

Belos belos belos versos *-*
Encantada!

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