quinta-feira, 11 de setembro de 2014
partida
ainda mais quando vou te reconhecendo calma
e surdamente, pelo que já foi silêncio
e o que o teu ego deixou mostrar.
desgrudar-me de ti, tem o porém,
de mesmo que lendo em teus textos
coisas que se despreguem, se deformem,
o que será, que há por dentro, que um dia,
já foi tão "eu".
observo calmo cada palavra que solta,
cada deslize de constância que não toma forma,
sou deveras observador,
já observei o modo como arrumas o cabelo,
como olhas furtiva ou profunda,
dentro do meu olhar -- nunca te pregaste ao meu,
nunca soubeste o que é brandura,
nunca nunca nunca.
já foi mais difícil, já foi sim,
ainda mais quando depositava em ti
minhas esperancinhas mesquinhas,
como também, egoístas -- mas eu me doei em amor,
e como agora vejo, o que te falta é a soltura que te dou,
e dou.
mas, não me digas que me ama, ah, não, nunca mais.
que amor, só jane me soube dar,
e como sei disso? é só eu pensar em quando fui feliz.
me chegava abrandando a cabeça, meu receio, meu medo,
me tinha zelo e amor -- acho que se há na vida um amor, esse amor era-ela.
por isso, me despeço de tuas mãos calmamente,
não sei se pelo apreço de tudo ter passado
ou de tudo ter acabado,
só resta estarmos ambos em paz em separado,
porque essa batalha silenciosa, meu amor,
essa queda de braço inútil, nunca foi pra mim: eu começo minha vida
no momento oportuno em que me refaço de desprazeres.
como é que se deixa o amor assim tão solto nessa certeza de volta?
não, é que não me amas, porque senão eu voltaria, e eu não te amo?,
e a recíproca é verdadeira, apenas queremos estar juntos,
entretanto, por que não? apenas pelo orgulho que assoma à tua cabeça
de ser a desejada das gentes e de ser tão perfeita quanto as maiores das imperfeições;
mas perfeita... nem jane foi, mas por culpa de um desajuste temporal.
tivesse hoje aqui, jane jocosa na janela, janelaria minha volta,
jamais me jogaria fora, jamais me jogaria dentro, apenas junto,
como se há em todo caso de amor de verdade...
entretanto esse nós, esse barco atroz em que nos permitimos navegar,
ah, não, não me faça querer, não me diga pra ficar,
quando na verdade você quer que eu feche esta porta,
quando na verdade você quer que eu leve as chaves,
para que aí dentro, lhe sobrem a sueira de meus sapatos,
para que, calmamente, se vá a varrê-los fora,
ou, em todo caso, deixar que o vento o espalhe,
para que daqui uns dias eles possam assomar a rua
e meu corpo não estará mais exposto em tua memória.
quarta-feira, 10 de setembro de 2014
praquela que ainda não veio
algumas fotos de uma cadência
que vai para além de tudo
o que não me diz, o que ainda teremos a dizer
-- aí que sim, a gente poderia ter umas horas
para refazer aquilo que cada um de nós deixou pra trás.
é que desses dias a gente só toma
o que é válido se tomar -- e me desculpe
invadir assim o seu espaço, por favor,
mas ao mesmo tempo, com licença,
porque eu queria muito saber como são
as paredes da tua sala, do teu quarto,
o cheiro do teu lençol, a curva que se faz
antes de começar a cintura, e trazê-la assim
praquele abraço ainda não dado...
não sabemos de nada ainda,
um do outro,
nem custa saber, talvez seja melhor
que sim, que não -- não sei mais de nada,
só quero estar a par de tudo,
sem me deixar abalar com nada,
no teu braço fazer cobertor
e nas tuas pernas.
apagar as luzes, a gente poderia ter um dia
ou dois, ou três,
pra poder falar sobre qualquer coisa,
enquanto o dia insistisse em nascer.
domingo, 7 de setembro de 2014
peregrinas
que os anos correm de maneira lenta e igual.
não consigo mais obter os espaços desejados
pelas minhas mãos, mas, ai, não sejamos tão mortos.
tínhamos tantos planos pela frente: isso de ganhar a europa,
de ao menos uma vez usar ópio, peiote -- arreganhar
todas as portas que nunca abrimos -- ainda.
mas não os deixemos morrer -- como eu, a vida inteira, de vocês,
demos as mãos um ao outro -- uma garrafa em cada,
quem vir teu segredo desabrochado, pelo amor de deus:
não conta, seja surpresa.
não sede evidente, não sede.
na cachoeira que se externa, que se expele,
queima num gêiser tua carne, apenas para saber de nós
quem vai vivo, quem vai morto.
decrépitos de dicionários pagãos,
cada palavra dita, se transformada, vira ouro, vira outro.
minha mão não solta nada que não se queira estar
e destes meus sonhos, todos tão pueris, construídos
quando a efervescência da vida era monótona,
por que alimentar teus filhos que nunca virão à luz?
a palma da mão, a planta do pé, o olho distante,
quem poderia supor, dude: meretrizes todas nós, de corpo e mente,
mas não sobrepujaremos essa vontade pelas outras.
escalar pelo monte precipício -- descer ou subir ou qualquer coisa.
quem me souber dessas palavras, ah, só faça o favor,
de mudar meu nome quando voltar e nunca mais me reconhecer.
sábado, 6 de setembro de 2014
-
saberá que pelas ruas
encontramos tanto além
de nós.
seria um erro entorpecer
meu corpo pela cidade
apenas ao meu bel prazer
satisfazer apenas teu gozo,
vou manter meu corpo limpo,
minha casa arrumada,
meus cabelos cortados
pelo meu amor próprio
e pelo amor vindouro
para que no meu perfume
ela possa farejar por aí,
meu cheiro.
câncer ascendente em áries
raivosa pelo choro - eu sempre em coro,
espectros lamaçais - e eu reinicio, um verso,
um nexo, uma lógica encharcada de sentimento.
se te gritar autoritário, é pra vir aqui, mas não por ódio
ou por amor, apenas pra que no abraço
eu possa resfriar minha carne queimando
queimando em febre - quão grande é minha mínima
sou de forte centro ao norte, quem sou eu? nunca sei.
metamorfoseio-me de mil formas que eu saiba
de calado a expansão de estrelas,
enquanto dentro fica-se assim um dito pelo não dito.
leva-me a vontade de ir, de ficar, de construir, de destruir,
de ser, de não ser, de rir, de chorar, de brigar, de fugir,
de partir, de voltar -- tristeza alegre, alegria triste,
yin e yang, da vida que eu olho, como tantos, como eu.
doce amargura, doce doce doce, porém, o passado chumba
minhas pernas para ficar, enquanto algo em mim
agarra com os braços o futuro -- se eu fumo
é porque a vida permite ou sou eu quem permito a vida?
câncer de água, sentimento, família, passado, proteção,
áries de fogo, impulso, eu, futuro, destruição e construção.
não sei hoje se esquento esta água, para queimar tua pele,
ou se apago o fogo, para nas cinzas me alimentar.
porto solidão
de ter em teus braços qualquer coisa, abrigo,
um mar que se pudesse flutuar infinito,
âncora pra repousar... nas espumas...
queria poder achar um porto
em que meu corpo pudesse aportar
e ser mais que mera carcaça,
virada entre as portas
de quartos baratos
pelo amor de deus, de tudo o que é sonho,
não deixem que eu me perca mais em mim.
animalia/metazoa
porém por dentro tão cordeiro,
vitimado por tua carne
talvez incerto inseto em teu cabelo.
*
sou enxame de abelhas que de voo em voo
transborda o mel que da flor rouba
sou mais homem quando eu tento
retirar a tua roupa
*
talvez bem mais menino,
do que homem próprio dito,
mas de lagarta sou casulo
em teu seio, labirinto.
*
não caio em contextos vis
de ser bicho ou se ser homem
em tuas costas, como quero
acordado enquanto dormem.
terça-feira, 19 de agosto de 2014
nem tanto
abandonadas no cinzeiro...
foste, quiçá a causa de umas três ou quatro horas perdidas
de um devaneio sexual, no qual me perdia brandamente.
com o qual descasquei algumas lasquinhas da superfície franjosa;
de um erro previsto, evitável,
mas, ah!, esse coração: afoito pela loucura,
pelo sofrimento de um amor louco e profundo,
que me agarre pela nuca e puxe os cabelos
e que no retorno, beije brandamente os lábios
que se supunham secos.
cê me soube
destas facetas,
(guardou num canto
escuro
muitas verdades minhas
sobre seus olhos --
tinha razão no não encarar)
te disse um dia da minha teoria
de que as pessoas são pontes.
achei, à curto prazo,
duas tábuas da ponte que me foste;
teu sexo, teu desnexo,
a ponte do encontro,
do que me fez 'homem'
[o homem que todos almejam
mas que provável
precisará d'outra mãozada na cara
para levantar e reagir,
e correr, e ganhar o mundo]
foste a causa do meu silêncio de ouro
e isso é tudo o que eu sei agora.
e eu te soube
pelas palavras.
mas ainda assim,
foste acausa mais provável
deste último seu poema,
nem tanto de coração partido,
nem tanto de saudade,
nem tanto de desejo,
nem tanto.
segunda-feira, 18 de agosto de 2014
ao carlos
se não houvesse o rascunho imaculado
pela minha vontade de nunca mais mexer naquilo,
de deixar qual marca minha de perfeição - que não existe.
já foi dito que luta vã é esta com as palavras,
e que verdade, que verdade até triste.
mas nunca me encontrei com outra função em vida
(nem em morte)
que batalhar contra elas, mesmo que na vida seja de uma covardia...
[nádia um dia levou-te poemas meus, grudou assim um esparadrapo
nas tuas mãos - espero que ao menos teu espectro seja ou esteja pairando
se bem que não sou dado a acreditar que fosses assim de tanta atenção]
olha-se assim pela casca, cara fechada, até que ríspido,
porém mole, mole, mole. à noite essas feições são nítidas,
pintadas com uma máscara da máscara de carência de abraços
e mãos dadas, muitas mãos - eu queria me desgrudar de tua presença
mas, tem-me sido tão difícil, carlos, ainda mais agora, que te sei
um tanto mais - e já enche-me a paciência, tanto falarem nas tuas pedras
nos teus caminhos - se me souberem querido de teus versos
e somente deles - como dói sê-los às vezes, sozinho na américa,
num quarto, em qualquer lugar...
a bruxa segura está atrás de mim, onde quer que eu ande,
vela meu sono, senta à mesa e mastiga ruidosamente em seu silêncio,
e mastiga e rumina muito a morte em sua boca banguela.
quando amanhece, já não sei se quero tanto ser carlos,
se quer ser uma vaca qualquer no campo, um gato preguiçoso,
um móvel que apoie minha história - tão vasta em vazios.
uma mesa, e nessa mesa, teu rosto, em preto e branco, mineirinho,
eu, já de nordeste cheio, não me encontro, em não ser forte,
me aperreio com a vontade de não aperrear-me em ser estigma...
um estrangeiro, de país nenhum, de língua alguma, onde se falam silêncios.
acabrunhado pela natureza própria, ô, carlos, eu sinto que lutar
é realmente vão, mas, se pelo menos eu ergo o punho,
já me sacro vencedor de tanta vida.
sexta-feira, 15 de agosto de 2014
-
porém cá me encontro em descarga constante
quem quiser cheirar
à vontade esteja.
laudas para o futuro
porém, nele, se há vitória,
ela é neutra, um caminhar calado.
volta-te as costas e deixai
que o universo levará tuas preces,
tuas vestes, e o vestido florido.
não levai ódio à casa paterna,
contrário: destila teu perfume,
porém resguarde o peito, o feito.
cansa-te um pouco, sempre,
ou nunca - não te obrigues a ser
uma linha reta, mas sim, corda-bamba.
destila a raiva e a verdade, pura.
queira o que te é reservado, feito,
entretanto, saiba a hora de bater em retirada.
mereça banquetes, e murros na ponta,
não de uma faca, mas de uma espada,
numa bala, numa corda.
carregai tuas culpas e sede subserviente
ao que delas te mudar a vida,
e corre, em sede a si mesmo.
no mais, vive, não morre,
não deixa assim que digam
quem calou tua melodia.
quinta-feira, 14 de agosto de 2014
engenho
nunca pude me gabar de ter fotografias
que representassem uma memória boa.
nenhum abraço apertado que se fizesse
sorriso lento, sorriso verdadeiro.
e eu nunca sorri, na verdade.
dói sorrir, pelas coisas que nem sei.
um dia, ah, um dia, quem sabe, um dia
todas essas amarguras irão saltar a sala
e se transformarão num belo tapete
que se estenderá sala adentro
e eu, quem sabe, possa sorrir.
já está tão provado que meus dias são nada.
já está tão na cara, que minha vida não é vida.
que minha vida não é minha,
que nunca serei nada enquanto daqui pra frente
não souber guiar meu guidão, minha vez
e eu, quem sabe, construa um sorriso.
na minha casa, terá uma sala que dará em flores
que darão perfume de doçura nata,
e meus filhos brincarão em volta de um cachorro
que terá o nome que eles quiserem,
tudo será tão deles, tão deles, tão eus.
e aí, eu, que já sorrio, posso refazer sorrisos.
na minha sala, tão espaçosa, tão quente de mim
estarão minhas visitas favoritas, meus amigos,
minhas poesias, meus vinhos, meus cigarros,
minhas paredes, meus violões - minha casa,
uma extensão da vida que nunca tive.
e aí, o sorriso será repleto de verdades.
mas as fotografias, elas ainda estarão ausentes,
e eu não saberei porquê, porém, haverá verdade,
haverá um mar inteiro de amor, que deitarei
por sobre a testa de minha filha, a história
que eu direi ao meu filho antes de dizer
que eu que nunca sorri hoje te sorrio.
deixarei as luzes acesas, assim queiram, porém,
estarei desperto para me deparar com o monstro
do armário, da cama, do sono ruim, do sonho mau.
velarei minha mulher, sem que lhe deixe faltar
a sua dose diária de sorrisos que eu lhe porei nos bolsos.
e eu, tão taciturno, saberei, que por trás da barba, mostro os dentes
num sorriso tão discreto.
quando, enfim, eu morrer, talvez, mas só talvez,
meu rosto refletirá um sorriso morto, de alívio,
mesmo o morto quincas berro d'água, nem ele sorrira tanto,
e aí, minha magnum opera estará feita, choram,
porém, há, de quebra, meu sorriso, engenhado desde sempre.
e eu tão mesquinho, só queria sorrir um pouco mais nessa vida.
na sala da família que serei porta retratos.
terça-feira, 12 de agosto de 2014
quando a noite chega sempre sobra a vontade de catar uma estrela no teu muro
e na parede silenciosa do vazio deixado
quem dera neles eu pudesse desfazer teu nome
escrito com umas poucas forças que ficaram
da manhã última em que acordei tão inspirado
em dizer-te coisas de se rir tanto, no teu ouvido.
fica do passado o resquício que da memória ainda jaz,
mas para o segredo do olfato, esses animais, nós,
cheiro um punhado de café e reduzo a vontade
e reduzo teu cheiro na minha camisa de botão,
refaço minha história como sempre: queimo tudo,
ateio fogo na nossa casa imaginária, no nossos sonhos
todos lindos, todos findos: o começo para que se rebanhe
para outro lugar as ovelhas indefesas, no fim da montanha,
longe de onde, e quanto menos se pensar, mais se irá fazer
que das coisas findas
muito mais que minhas,
muito mais que lindas,
haverá um gosto amargurado de sangue do beijo nunca dado,
na pele, o arrepio que os dedos nunca tocaram, da língua
que nunca queimou tua coxa,
a lembrança da palavra nunca dita, nunca escrita, nunca
nunca nunca.
fica, sempre fica, alguns de tal modo que se desfazem as horas
em conceitos desaprimorados de qualquer benção divina.
de qualquer amor, ai meu deus, eu guardo a chave do que é efêmero,
mas do que é lato, eu, moça, eu sempre farei questão de pintar
na parede das ruas que te seguem.
mas, minha tinta, minhas mãos e dedos, a preguiça da desistência já me toma
toda hora que me deparo com o sei-lá-o-que-que-você-pensa das coisas.
mas antes de mais nada, do que finda, eu digo, e desdigo: fica.
sexta-feira, 1 de agosto de 2014
-
e dentro deles
o mundo inteiro
se derramando
pouco a pouco.
txt
e nele eu colori duas ou três manchas
em vermelho e roxo.
-
sábado, 26 de julho de 2014
-
mais que te valha a dor
não me desprega tanto
esse sofrimento que calado te acolho:
faz assim como fez macabéa
enquanto sonhava da vida
sem saber que vida era
ou que vida é:
sonha pouco
levanta um dedo e derruba
todas aquelas peças levantadas
em tanto tempo
do teu castelo de cartas
uma lágrima ainda
não é capaz de te derrubar.
sabes bem que por dentro
tua alma não acolhe
a grandeza da realidade
e assim
no pouco tempo em que te deixares suprir
a vontade de desistir.
estrela anã branca de pouca luz
a limitação de tudo o que és
é contraste de tua importância.
agora, se choras
choremos juntos.
quinta-feira, 24 de julho de 2014
domingo, 20 de julho de 2014
remote
são os fios de energia
pelos quais a minha tevê
se vê sem sentido, sem ídolo
sem mito.
um dia após a nossa refeição última
estive calado
por achar que assim eu deveria permanecer
e quando a nossa voz mais uma vez se encontrar
eu te falaria das viagens interestelares
que por uns dias e anos viajei.
talvez o mundo seja mais extenso que suponho
e ele também é uma ponta de iceberg
uma grandeza pequena de se caber no bolso.
as dores do mundo, delas sei todas
e quem me diz isso é aquela voz
que às vezes se rasga em alardear
que estamos mortos/salvos
a cada instante
seja como for
a nossa perda de contato imediata
nunca será superada
pelas garras únicas de solidão
estendo-lhe a mão
e me passas o controle
mudo o canal:
a vida muda.
sobre mais um adeus
eu diria que sou o especialista em desinventar as pessoas.
essas pequenas instruções que nos dão
simplesmente não servem para quem não lê
aquele manual do usuário de si mesmo:
repuxe suas páginas, leia as notas de rodapé:
não credite a ninguém coisa alguma.
é o erro crasso, é o erro crasso:
culpa alguma tem quem nunca se disse belo,
entretanto, quem, em sua magnitude,
seria provido de tanta beleza, como anseia
essa tua vida?
a tua cabeça é a prisão sem grades
que criaste em domicílio próprio
para não servir a ninguém.
e se de alguma forma
tudo o que se fareja se desespera,
tenhamos algo além que essas pequenas emoções
e transformemo-las em menores
em pífias
em ridículas
porque é tudo o que se poderia imaginar de ser:
somos nada e ao nada voltamos,
a realidade é o vazio que se sente
mesmo que a completude seja próxima
e tudo o que tu queres te bata na porta
para além da vaidade e da necessidade
com amor.
mas não me mantenho são por desiludido
porque o futuro é sempre algo que se chega de maneira mansa
e eu espero teus dedos, tuas carícias,
teu sentar calado na varanda,
um café, uma vontade de apenas estar e ficar.
solidar-se em ser solitário
é uma arma que o passado me treinou,
mas, querer que estejamos assim dispostos a não nos prover futuro
é uma faca que entra e extirpa minha vontade
de deixar de morrer tanto,
quem você pensa que é
quem eu pensou que sou
quem você pensa que eu sou
e quem eu penso que você é
são as únicas dúvidas que sempre permanecerão.
antes da semente que desaflora agora
eu já não me tinha dado conta de que
dezenas de vezes o meu amor era despido
de qualquer vergonha.
não-abjeto, não objetivo.
e como me cansam as pessoas racionais!
estou farto delas, apesar de que, sou uma delas
aquele por quem a lágrima cai sem querer
e por obrigação.
eu sinto um pouco falta de me coibir de sentir
porém
sou desastrado com minhas mãos, e com elas
eu poderia deixar de segurar as tuas
não sei ainda como
para tatear a próxima, e a próxima,
até o leito
e neste leito:
quem ficará?
domingo, 13 de julho de 2014
mais-valia
de constelações eu jamais entendi direito, nada além que a obra divina
e não sou nem de longe o mais cristão, sou apenas o último emérito
de uma casta de esquecidos por deus, por todos, e até por mim mesmo
ganho o suficiente para aquietar a alma.
se me lanço a cantar, é que dói a alma, você deve perceber, que sou assim
assim um tanto quanto fidedigno ao que nunca construí.
o completo e absoluto nada de todas as coisas,
o completo e absoluto nada de todas as dúvidas,
ó, senhor, como eu queria errar menos em acertos,
como eu queria ser um pedaço de tua carne chicoteada,
eu achei que soubesses, soubesses o quanto de meu amor
fora sacrificado em nome da liberdade, que é isto.
eu não sei se peço perdão, na verdade, não sei se pedirei
não sei se reponho-me a cobrar aluguéis de casas para morar
e ser esquecido pela natureza de nosso coração.
quem garante essa dor?, senão a tua própria imagem
teu erro unânime,
e eu que jamais voltei a assinar meu nome,
vejo-me acidentado a correr contra o tempo, contra as nossas desvontades
de deixar legados,
eu apenas queria morrer, sem nenhum pormenor a ser descontado, e que fosse rápido
e que fosse na sombra,
que desse mundo minha alma se cansa de tentar.
seria demais pedir-te um amor verdadeiro que seja
um amor verdadeiro que seja mais que teu sacrifício?
e eu que não sei clamar teu nome
já me vejo voltando atrás no tempo tentando corrigir a minha história.
remontar
como uma luva
nos momentos em que sinto a necessidade
como o melhor e maior e melhor do mundo
e é um absurdo
que dele eu tenha me desfeito
mas talvez por isso sou tão capaz
de achar, que foste assim a melhor que já houve
e não, eu não consigo acreditar
que tinha assim uma silenciada vitória
e na derrota, ainda, saber-me sacro campeão
não sei de quê
não sei porquê
não sei dizer, talvez:
o fato de que nessa vida
tudo tem passado indiferente,
e minha vida era mais vida
mesmo quando estavas ausente
me faz
o romântico à capela
à palo seco
à voz rouca
te viciar em meus vícios
te submeter à minha submissão
de amante, amigo e guardião,
mas sobretudo, o amor das ruas
que a gente conquistou
silenciosamente
enquanto tiravas a roupa
e me chamava para dormir
e nunca dormíamos,
num sonho a gente se encontrava
para se dizer feitos um para o outro
mas ninguém é feito para ninguém,
como as luvas se desgastam por seu uso
e eu tive minhas mãos calejadas por ti.
domingo, 29 de junho de 2014
passagem iv
existe ou existiu qualquer som que faça vez
ao teu olhar, sempre chamando uma galáxia próxima,
enquanto eu escavo as profundezas
sempre me desolo nas pedras e nelas me abraço,
meneando a cabeça e deixando enterrar,
fazer um choro de areia de tua cara seca
e de mim uma cachoeira de sereias claras
que nadam de cima abaixo -- ora,
se na tua mente não causamos dano
além-mar serei o dono do timão que se afasta
pra longe das terras incautas de teu querer.
meu deus, e já me pego remando, depois de posta abaixo
a embarcação que me propus a criar
e sair, navegar, pela órbita de qualquer infinito
que não guardo nos bolsos, porém,
sei que igual o silêncio que nos transborda
fica no teu mar um mar que chora.
mas me deixa estar, deixa-me estar sereno
mover-me como chama, de uma lado a outro
tentando a todo custo se apagar
mas como?
se dentro o coração queima
e me põe a apagar.
não venha dizer palavras vãs
que dos meus pés cuidam minhas mãos
e o caminho quem traça é minha pena.
ainda não voo, porém, reserva-te ao meu sol
para que nas minhas tardes eu possa ainda voltar,
buscar teus olhos, minha nau, e então, voltar à terra
escavando com os dedos
a claridade outrora escondida entre meus dedos.
sábado, 7 de junho de 2014
redoma
e se ainda não casa
a cúpula que se forma
nos distancia
das vozes e gritos
mas eu já vivia no meu redoma
só queria companhia
e hoje tem toda uma manha
no desenlace da manhã
com os nossos descasos
e fracassos
a gente vai construindo
um universo à parte
tuas voltas
maçãs coradas de não saber
bem como dizer o que vai aqui dentro
e aqui dentro
só a branquidão das páginas sabe
que é tudo exploração ininterrupta
e eu amo nossas idas e voltas
saber que não há que se abandonar
a essência
encontro mesmo que pesado
a taça última de gole sóbrio
é passar o tempo
com meu amor-próprio
e quem chama acende o fogo
e queima a própria casa
as próprias roupas
o próprio corpo
sempre andei pelas ruas
caustificado
onde passo
deixo as cinzas que caem
deste meu deixar
se sempre é assim
cabem novas horas
para satisfazer nosso sexo
masturba-me com mão pesada
e nunca saio leve
é sempre uma vontade inata
de deixar de ser
deixo meus pontos finais
cair
e no mais das vezes
o que sobra é continuidade
e nunca o nunca mais
sempre nunca sempre
e no final
tem sempre um entretanto
segunda-feira, 31 de março de 2014
ensaio sobre virgem
eap
quinta-feira, 13 de março de 2014
[forçado]
é uma coisa difícil,
entretanto, lista-me mil defeitos
que te esbanjo um prato esborrotado
de cascalhos e frangalhos --
carne purulenta, varejeiras a granel.
mas, ei, auto lá: sou o único que os digere
de modo diário, lambendo os beiços
com o paladar saciado de embriaguez;
me sangro a pino meio-dia,
cantando e contando a todos
minha lacrimosa e invejável jardinagem,
podar as ervas daninhas, agarrado aos espinhos
num abraço de todas as dores,
salada perfeita para dias de regime, vê:
fungos de meu pulmão, minha baforada
lúgubre, mas, não macabro: querela de família,
sessenta cigarros por semana, sessenta mortes diárias,
e um sorriso verde, preto, entumecido de saliva
que da boca cardíaca de um anjo já me foi ensinado,
que nome aguar com versos decadentes?
para começar a florescer as menores rimas
e anedotas com a palavra chiada da tevê da noite insone
eu diria que tudo é íntimo, ínfimo, pífio:
eus invetados pela obrigação de uma dor
que já virou piada.
eap
terça-feira, 11 de março de 2014
-
lições minhas de gratuidade na vida.
segunda-feira, 10 de março de 2014
partida de futebol
lolita
ter certeza das coisas.
hoje vi-te: dalgum modo,
o ontem fora crucial
em deixar-me livre
das pernas batendo,
do coração bambo,
da espera nervosa,
da agonia calma
de ver o que por aí se vê:
calma, abre as portas,
fala manso, sobressalto,
contrário oposto
da minha disritmia,
desespero
de mãos e palavras,
naquele instante:
o mais jovem
versus
o mais seguro.
papéis invertidos
e na verdade:
nas mãos o gosto
de só saber que o corpo sente
a velha sensação
nova.
de novo.
eap
domingo, 9 de março de 2014
cozer o tempo
novelo de lã onde as melhores coisas do mundo são sobrepostas
pelo enleio de nossa história
-- hoje em dia, quem reconhece quem?
nas horas que se fazem mortas,
no inferno que nos torna santos,
quisera eu que na medida do absurdo
nos transpuséssemos frente a frente
ainda resgatando uma corrente que
num peito se prende ao gancho
do peito de outro.
sorte que o que nos une
é carne, tripas, nervos, tudo enlameado,
encharcado, entumecido de um sangue
que bombeia de um ao peito do outro,
vitelina ligação, mas têm-se que haver
o momento do corte, bisturi e gaze,
algodões, alicates, tesourinhas, agulha e linha:
pende arrastando no chão,
e quando dá-se por si, o corpo regenera
e então você guarda aquela dor dentro dos botões:
"deixa disso rapaz, pra quê um palco
para lavar inteiro com lágrima?
faz delas antídoto e veneno
para recompor e cicatrizar tua ferida
-- um dia inflama, outro não;
um dia sara, outro mata"
me disseram, suportando minha surdez
e minha cegueira, minha natural loucura
em não se deixar descansar,
mas o peito bombeia sangue, a mente ideias,
na medida do caos com que minhas funções
mais orgânicas
foram acostumadas a produzir -- por que tão caótico?
no fim, depois do "acaba", antes do "enfim",
(essas medidas didáticas que nós poetas criamos
para botar ponto final no assunto que nunca finda),
cai-se de si que sonâmbulo é que se costura
tal laço,
não nascemos assim,
e assim caminhamos,
até o próximo surto de sonambulismo,
e é por isso que ando sempre
com minha agulha e linha nos bolsos.
eap
terça-feira, 25 de fevereiro de 2014
trecho: romance sem nome
eap
sábado, 22 de fevereiro de 2014
paisagem móvel ii
com tinta-fábula, estremece minha parede
e no fim da noite prossigo,
amado e cúmplice, das enevoações do ser,
não, porém, refestelando-se pelas amostras,
e te conservas em casa, ou noutras ruas
para que o gosto do osso exposto ao sol
não venha assim a perfumar minhas narinas.
não pareço são em procurar-te, nem assim o quero parecer
(buscas são chaves duma loucura
mui particular)
mas tuas agruras quero estar ouvinte, senti-las,
faz parte da paisagem com que te fizeste, certa cor
de queimada do sol, de ressequida pelo tempo,
de amarelo-ser: pois agora te tornas outra
e vou admirar
o quadro pintado, revelado, austero, sincero.
nem pluma nem brasa corroi tua superfície
por si só profunda em tudo.
domino-me duas vezes mais - enlameadas as mãos
na tua pele-barro, tua voz-veludo, tuas mãos de nuvem
teu existir criado -- onde essa claridão some,
sou renome pintado
na borda inferior do objeto em que te fiz arte
hoje andas pelas ruas,
se andas, nelas te fazes vistosa aurora
apreciam-te outros amantes
e na verdade, sou moeda de troca
na hora em que trocam-se os olhares
e nela fica de lembrança a outra coisa
da qual não evidencia tua convivência caseira.
claquete, vislumbre do último ato,
sinfonia em ré menor, tristonha
atenta às tuas olheiras,
o dia avança e a mente regressa
pelas calçadas outras
onde outrora uma mulher se jogou do quinto andar --
adivinho teus passos, e o olhar pro céu.
te refaço novamente.
eap
quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014
paisagem móvel
quem vai na onda dele se perde
e maiores são as notícias - espera:
na alça da blusa dela,
as onças se abocanham,
podem andar pela extensão
de toda a savana de pelos
dos quais o seu braço é feito
na nuca - calma:
do bigode dele
acompanho a vazão que dá
as idas e vindas que sua vida
cuidou de fazer - passa o troco
e no cofiar dos dedos,
percebo-lhe vaidade
para além dos anos que lhe vêm
para agora dos anos que lhe vão.
"no vão das coisas que a gente disse
não cabe mais sermos somente amigos
e quando eu falo que eu já nem quero
a frase fica pelo avesso - meio na contramão"
quem sabe da vida inteira,
estrela essa que carrego
na ponta dos dedos,
iluminando apenas os meus olhos
enquanto vai-se apagando
por dentro do que esquenta
(a morte da estrela-anã vermelha)
eu astrônomo todos os dias,
conto no cobertor, e no buraco do teto
todas as estrelas que posso
o til nem teve tempo
de se sobrepor no a,
foi instantâneo, e, mesmo
depois que o a se forme em
inúmeros zês pela madrugada
meu pensamento continua
dissociando o intangível das memórias
que nunca tive,
da tesoura e do escorpião
e de todas as coisas
que num dia
fiz verso do avesso.
eap
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014
parábola da vontade e da constante
nasceu em tudo e em tudo se fez praga.
hoje seu relicário é uma lembrança amarga
de dias em que a mesma cor com que lhe pintaram
transferiu a ele uma dada peça incolor
para colorir seus anseios de humanidade,
este homem não pode saber
que a vida corre a léguas de si
que a solidão faz peso na porta
e não deixa ninguém nem entrar
nem sair.
simplesmente a liberdade é algo que
para o coração não faz miséria,
e na veia ele sente, e sempre, e só,
fadado o presente, o futuro, o nó:
eu quis ser deus, tanto quanto pude
e na imagem de jesus cristo
recobrar algo que assim se assemelhe
de plenitude.
nasceu.
e não poderia ser mais santo
que judas.
nessa fiação de amores inconstantes
pelo que há de concreto e mutável
areia movediça,
sonho que te lembra
algo tão real,
quanto o rosto que embaciava tua turva visão
de criança sozinha
quando a luz apagou,
quem te socorreu, amor?
nasceu, e com a leva de leves
de peso se fez carregado,
no cais dos contêineres, estivava
sacas e mais sacas de pesado fardo
de saber que o mundo é feito
do deixar ir.
mas não deixa,
carpinteiro que é,
não acredita na frigidez do aço
na sua imaleabilidade,
na sua triste sina de ser o que é:
prefere raspar a curva
mais dolorida que seja
toda noite
para adaptar-se ao peso,
e, frágil, sim,
mas, deus, porque tudo é assim
de se acabar,
e de se acabar é que somos feitos
de nascidos, transformados, mutabilidade
e mais, e menos, e dor,
e peso:
caiu pobremente no seu peso
de adaptar-se,
as pernas estremeceram,
ninguém saberia agora,
se a vida lhe pesou
ou se a adequação lhe derrubou
antes que caísse por sobre a própria coluna
e olhasse frio e calmo
como nunca
para a obra - e esta, leve, impassível,
entretanto,
quebrada,
lhe retribuísse o olhar:
- quis de ti o peso
de mim quiseste a beleza,
onde iríamos parar
senão na firmeza
do desequilíbrio constante?
eap
domingo, 9 de fevereiro de 2014
doesn't remind me
sobretudo me incomodam retratos familiares conturbados. e não necessariamente precisam ser conturbados, mas retratos familiares de um modo geral.
pego-me às vezes sendo vítima, e nem sei bem se essa seria a palavra mais adequada para isso, de objetos de estudo puramente freudianos. é estranho ver-se desnudado por teorias - e dói.
odeie quem odiar, mas sou canceriano, ascendente em touro, lua em libra, denota uma personalidade pacata e sensível. mas o lado canceriano fala alto no que diz respeito à memória, esta, nem sempre agradável, mas, penso, responsável por uma sensibilidade pelo que se vê aqui nestas páginas desde 2009 e que vem de mais tempo, desde os treze.
vejo: os laços e desenlaces familiares e suas consequências sempre foram temas que me marcaram - e a maneira como o cotidiano de todas as pessoas é afetado por relacionamentos. tudo na vida gira em torno do que dentro da instituição afetiva criada com o outro gera: personalidade, atitudes (sejam elas quais forem), profissões, opiniões, igualmente - tudo. daí perguntarem o por quê desse apego a relacionamentos. ora, mas é disto que são feitos maior parte dos retratos cotidianos aqui expostos.
os meus mais íntimos sabem dessa fixação toda minha. e no quanto acredito piamente nisso.
quando penso por exemplo na figura de meus pais e em tudo o que se desenrolou na separação deles (sim, meio constrangedor, mas para que eu divulgue o que determinou este insight precisarei recorrer ao pessoal), foi responsável por lágrimas e mais lágrimas derramadas e olhos embaciados por filmes, músicas e livros que retratassem a figura paterna como provedora de algum desenlace - de cabeça lembro: estamos bem mesmo sem você (filme italiano do gênero drama, que retrata uma família conturbada pelo abandono da mãe), lembranças (sim, com robert pattson, em um papel talvez demasiado dramático, entretanto, final surpreendente, destaque para o papel de pierce brosnan), e, o que deu origem a esta crônica: o clipe de doesn't remind me, do audioslave, que retratou em síntese todas estas palavras até aqui.
no dito videoclipe vemos que tipo de destroços são criados com o pós-guerra (ao que tudo indica, a do iraque, ou afeganistão). uma criança que libera sua energia para suplantar uma dor que incomoda (vou escrevendo e achando cada palavra piegas, mas, que seja) no boxe.
ora, acho que é uma maneira de escapismo, jogar a fúria num esporte, adolescentes escolhem outros caminhos etc., mas aí denotaria uma outra breve reflexão de sociedade: lidamos com um modelo norte-americano de fraqueza, onde, como disse ariano suassuna, um jesus cristo modelo seria o superman.
que seja, tanto faz, não discordo, nem concordo - muito pelo contrário (risos). o fato é que: não é interessante como essas instituições nos transformam?, transtornam, também. de toda forma, ainda no assunto do que uma guerra pode gerar, vemos a figura de um soldado que nos diz o seguinte (naquilo que acredito ser um dos primeiros parágrafos mais legais da wikipédia:
" O Tenente-General Sir Adrian Paul Carton Ghislain de Wiart VC, KBE, CB, CMG, DSO (05 maio de 1880 – 5 de junho 1963), foi um oficial do exército britânico de ascendência belga e irlandesa. Ele serviu na Guerra Boer, Primeira Guerra Mundial, e na Segunda Guerra Mundial. Levou um tiro no rosto, cabeça, estômago, tornozelo, perna, quadril e ouvido, sobreviveu a um acidente de avião, escapou de um campo de prisioneiros, e mordeu e arrancou seus próprios dedos quando um médico se recusou a amputa-los.
Mais tarde, ele disse: 'Francamente,eu adorei a guerra!'"
não queria, sinceramente, que este texto se arraigasse pelas vias da boba demagogia sentimentaloide. vade retro. mas como não refletir e fazer paralelos?, ou então só uma mente paradoxal como a minha associa essas minúncias - mas, o tal videoclipe me conseguiu marejar os olhos (coisa lá não muito difícil), e fica-se aqui a indagação desta responsabilidade fardo que somos obrigados a carregar. nem sei ao menos a quem se há de atribuir uma culpa - e se há.
enquanto não se encontram formas de se saber o que por aí vai, deixo aqui o aviso prévio de que freud ainda vai incomodar por bastante tempo com obviedades. vamos à guerra ou ela vem a nós?
eap
ensaio sobre libra
domingo, 26 de janeiro de 2014
carnaval
terça-feira, 14 de janeiro de 2014
10 às 4
-
não dou asas pra tristeza:
rapina, ela voa,
e me arranca a cabeça
eap
sábado, 11 de janeiro de 2014
copo dágua
me deixa nele afogar
fazer tempestade,
ressecar,
ser nele conservado
profundo, transparente
aquário - melhor ao sabiá
que na borda dele
tende a beber, e mordiscar
meu corpo inerte e inchado,
donde outras moscas
se puseram a morder
meus braços e pernas -
verdade que deixei,
até certo ponto dava razão
ao verme que dos buracos
feitos e criados
entrava e saia.
semana que vem, o cheiro perturba
como fosse rato morto
na calçada.
daqui um mês, no mesmo copo
que outrora padecera meu corpo
ela mata a sede e engole.
eap
a ideia vaga iii
a ideia permeia, solidifica -
misto de liberdade solidão
solitude sofreguidão.
a ideia quer ser, não falar:
procura nas palmas das mãos
coisa de destino, coisa de fim;
reproduz-se por cima de si mesma
acalentando-se através de um desatino
amarrado em válvulas de escape
que jorram porra e sangue
pelas paredes, pela estrada deixada
para trás - ninguém refreia
a ideia refeita.
a ideia de unidade
a famigerada sorte dos astros
são nada além que um buraco
esticado no meio do peito
com as unhas sujas
de pontas pretas - não dói
como doera antes saber:
tem jeito de privilégio sacrilégio
sorrir a dente amarelado
dum desgaste que a vida faz,
a ideia amadurece,
e solidifica as bases
do que um dia foi penso -
penso, logo existo,
penso logo pendo,
logo cedo, logo tarde,
logaritmos desproporcionais
para se calcular com exatidão
a matemática da vida.
mando um puta que pariu
no meio do nada,
apenas para saber que estamos aqui.
a ideia veio cedo,
não quis ir embora:
deixou marcada nas paredes
um gosto pelo absurdo
pelo fascínio das meias palavras,
das meias verdades,
do que agora é silêncio,
do que amanhã, ou nunca,
é um seja-lá-o-que-for.
a ideia não vaga mais,
porque se soube sábia em não ficar
não parar: a ideia vaga no seu próprio lugar.
eap
poema para s.b.
quando revisito seus olhos
encontro uma verdade inata.
nenhum dos teus fios de cabelo
foi capaz de segurar teu juízo.
e eles eram muitos e tantos
e tão desgranhadamente lindos.
no fundo dos teus olhos
há coisas de se perder, de perdido,
e, olhando, indago "até onde
a busca de uma liberdade
pode acabar te aprisionando
dentro de si mesmo?"
veja só onde foi parar: voou
sem saber onde era bem-vindo
para um lugar secreto -
perseguir um brilho doente
que sabia que existia na gota
que fritou teu cérebro.
mas leve o meu recado - lembre-se
de quando era jovem,
de quando sua vida era
sem perder jamais o que nunca será.
às vezes nos perdemos
na busca de acharmos
algo que não existe - então,
aí a hora de voltar pra casa,
e tentar vestir as velhas roupas
do flautista que foste, um estranho,
uma lenda há muito esquecida.
eap